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Archive for 19 de dezembro de 2008


hoodiaflowerEle cresce no deserto africano e virou moda entre os americanos que querem emagrecer

A nova estrela do mercado americano de produtos para emagrecer é um cacto. De nome esquisito, o Hoodia gordonii é originário do Deserto de Kalahari, no sul da África, onde é largamente utilizado pelos nativos que precisam enfrentar longas jornadas pelo deserto sem suprimentos de comida. Há cerca de dez anos, o hábito africano chamou a atenção de pesquisadores, que começaram a estudar a planta. Eles concluíram que o hoodia possui substâncias inibidoras de apetite e, pouco tempo depois, o cacto transformou-se em comprimidos, adesivos transdérmicos e até bebidas que prometem emagrecer e são sucesso de venda na internet, nas farmácias e nas lojas de conveniência dos Estados Unidos. Para resistir a um suculento pedaço de picanha ou a uma vistosa taça de sorvete, os fabricantes de hoodia têm uma receita simples: ingerir uma ou duas cápsulas do produto cerca de uma hora antes das refeições ou deixar o adesivo grudado na pele ao longo do dia.

Os cientistas, no entanto, ainda não conseguiram comprovar esse efeito. Os estudos disponíveis até o momento são limitados e avaliam a ação do suplemento apenas em animais. Uma das pesquisas dá, no máximo, pistas de como essa ação aconteceria. Ela mostrou que, durante 24 horas após a administração do hoodia, os animais ingeriram até 60% menos calorias que de costume. A teoria é que uma molécula presente na composição do hoodia, a P57, turbina o funcionamento do hipotálamo, região cerebral que abriga os centros responsáveis pelo controle da fome e da saciedade. Ao fim de uma refeição, o hipotálamo é inundado por substâncias relacionadas às sensações de prazer e bem-estar, como os neurotransmissores dopamina e serotonina. “É possível que o mesmo que se observa nos animais aconteça no cérebro humano”, diz o endocrinologista Ricardo Botticini Peres, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Quem toma hoodia diz estar satisfeito com os resultados: alguns pulam refeições e, ainda assim, não sentem fome, efeitos parecidos com os proporcionados por inibidores de apetite de uso controlado, como a sibutramina.

Outra questão que permanece nebulosa são os efeitos colaterais do hoodia. Os fabricantes dos produtos à base de Hoodia gordonii garantem que não existem efeitos colaterais. Não há garantia científica, porém, dessa informação. Nos Estados Unidos, fórmulas à base de extratos de vegetal não precisam passar pelo crivo da FDA, a rigorosa agência americana que controla alimentos e remédios. A falta de estudos controlados e o desconhecimento dos mecanismos de ação de produtos como o hoodia no organismo deixam uma brecha para surpresas desagradáveis (veja o quadro). “O fato de um composto ser de origem vegetal não o exime do risco de provocar efeitos graves”, diz o farmacêutico Glauco Villas Bôas, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Oito em cada dez produtos comercializados pela indústria farmacêutica no mundo derivam de moléculas vegetais. “Todos causam efeitos colaterais. O que varia é a intensidade.” Compostos sintéticos com ação cerebral semelhante à que se supõe que o cacto africano tenha, por exemplo, provocam reações adversas bastante conhecidas, como dor de cabeça, alterações de sono, de humor e até dependência.

A julgar pelo furor que o cacto vem causando entre os americanos, muito em breve a planta deve provocar o mesmo alvoroço entre os brasileiros. Aqui, entretanto, a produção e a fabricação desse tipo de produto requerem o controle da Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Por isso, embora lojas virtuais americanas já disponibilizem esses produtos para brasileiros, sem a aprovação da agência a venda desses produtos é ilegal no país.

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